O fenômeno da geração “nem-nem”, jovens que não estudam nem trabalham, não é exclusivo do Brasil, contudo, um estudo recente focou nas características específicas dessa população no Rio Grande do Sul. Utilizando a faixa etária definida pelo Estatuto da Juventude, que garante os direitos dos jovens no Brasil, a pesquisa revelou dados alarmantes. A faixa etária de 25 a 29 anos é a mais afetada, com quase 12% dos jovens nessa condição. Quando cruzados com dados socioeconômicos, os resultados mostram que a maioria desses jovens pertence à faixa de pobreza. Enquanto na Europa os “nem-nem” estão mais presentes em famílias com mais recursos, no Rio Grande do Sul apenas 3% dos jovens ricos estão nessa situação, contra 20% dos jovens pobres.
A situação é ainda mais grave entre jovens negros (12,3%) e mulheres jovens (13,4%), superando os índices masculinos. A pesquisa indica que a falta de estudo e de trabalho não pode ser atribuída, apenas, à educação, mas a múltiplos fatores como violência, pobreza, segurança alimentar e acesso a serviços públicos. Ainda que a escola desempenhe um papel crucial na inclusão social, ela não pode atuar sozinha, ou seja, políticas públicas direcionadas e ações específicas são necessárias para reverter esse quadro. Neste sentido, as universidades e instituições de apoio à juventude têm um papel fundamental nesse processo. Quem explica é a coordenadora do Observatório Juventudes da PUCRS, Patrícia Espíndola Teixeira.
Conforme a professora, investir na infância e na juventude é, sem dúvida, importante, pois isso significa investir no desenvolvimento não apenas do nosso estado, mas também do país. Segundo Patrícia, estamos em uma era digital, onde os comportamentos geracionais mudaram e as realidades também se transformaram. No entanto, ainda enfrentamos problemas históricos e questões cristalizadas que precisam ser visibilizadas, especialmente, em relação aos estereótipos sobre a juventude. Segundo Patrícia, a narrativa que construímos sobre a condição juvenil atual é preocupante. Pois, fala-se muito da “geração mimimi”, da “geração fraca”, da “geração floco de neve”, rotulando esses jovens como se eles fossem insuficientes.
Ainda na opinião da professora, esses rótulos, querendo ou não, acabam sendo assumidos e moldam a subjetividade dessa geração. Portanto, nós adultos é que temos a responsabilidade de reconhecer e valorizar o potencial dessa geração, mudando essa narrativa incapacitante e investindo de forma consciente e estratégica na juventude, pois é através deles que construiremos um futuro mais próspero e justo para todos.
O estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul também destaca que o Rio Grande do Sul (PUCRS) é um dos estados mais envelhecidos do Brasil, com apenas 20% da população considerada jovem. Inclusive, segundo o estudo, a redução progressiva do número de jovens, desde 2012, é preocupante e exige atenção dos tomadores de decisão. Pois, o Atlas das Juventudes projeta uma redução significativa no número de jovens nos próximos 40 anos, mas também aponta uma janela de oportunidade para reverter essa tendência, pondera Patrícia. Portanto, a divulgação desses dados visa sensibilizar a sociedade e orientar políticas públicas eficazes para a juventude.
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