Levantamento mostra que desempenho gaúcho é menos pior do que a média nacional, mas ainda preocupante. Disparidades entre classes econômicas e características pessoais contribuem para a perpetuação da desigualdade social. Cenário é pior entre pobres, negros e mulheres
A reportagem é de Marcelo Gonzatto, publicada por Zero Hora, 13-08-2024.
Uma multidão de 229 mil jovens vive no Rio Grande do Sul sem estudar ou trabalhar, de acordo com estudo elaborado pelo Observatório Juventudes e pelo Data Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Esse contingente de excluídos do mercado de trabalho e das escolas, conhecido como "nem-nem", corresponde ao número de moradores de um município do porte de Novo Hamburgo e supera a população de 98% das cidades do Estado consideradas isoladamente.
O estudo abrange pessoas entre 15 e 29 anos, tomando como base a definição de jovem estabelecida pelo Estatuto da Juventude, e faz uma tabulação de microdados apurados pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (PNADc) até a primeira visita realizada pelos pesquisadores em 2023. Por isso, pode apresentar variações com outros levantamentos.
Um trabalho divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no começo do ano apurou uma cifra próxima, de 12,6% no Estado. O trabalho da PUCRS exclui da categoria quem está procurando emprego.
Embora seja rotulada como preocupante pelos autores do trabalho, a cifra de 10% de jovens sem perspectiva educacional ou profissional é cinco pontos inferior à média nacional. O problema é que o desempenho gaúcho piora entre fatias específicas da população como pobres, negros e mulheres, o que tende a agravar as desigualdades sociais.
"Termos quase 230 mil jovens nessa situação é preocupante porque a juventude é um momento de transição para a vida adulta em que as desigualdades sociais são seladas. Começam a se criar ainda na infância, mas é nessa transição que se consolidam. Dependendo de fatores como a classe social, não trabalhar nem estudar traz prejuízos grandes e difíceis de reverter, porque prejudica a qualificação e a inserção no mercado de trabalho - avalia o sociólogo e coordenador do PUCRS Data Social, André Salata.
Para a coordenadora do Observatório Juventudes da PUCRS, Patrícia Espíndola Teixeira, o gargalo está no descumprimento de normas previstas em uma lei pouco conhecida pelos brasileiros, de número 12.852/2013, também chamada de Estatuto da Juventude.
"Não é a geração que é "fraca", nem a responsabilidade é só das escolas. Diferentes sistemas de proteção precisam garantir o acesso ao sistema de ensino oferecendo segurança pública, segurança alimentar, transporte público e saúde. A falta desse conjunto compromete o progresso educacional", opina a especialista.
Ela observa que, na outra ponta do levantamento, nada menos do que 27,6% dos adolescentes entre 15 e 17 anos combinam estudo e trabalho ao mesmo tempo no RS - o que também configura um desafio à gestão pública. "Olha a sobrecarga que é isso para um adolescente", diz.
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