Estudo revela que 229 mil jovens no Rio Grande do Sul não estudam nem trabalham, acentuando desigualdades sociais

Relatório da PUCRS destaca que 10% dos jovens gaúchos estão excluídos do mercado de trabalho e educação, com maior impacto sobre pobres, negros e mulheres

Um estudo realizado pelo Observatório Juventudes e pelo Data Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) revela que 229 mil jovens no estado estão sem estudar nem trabalhar, compondo o grupo conhecido como "nem-nem". Esse contingente, comparável à população do município de Novo Hamburgo, supera a população de 98% das cidades do estado quando consideradas isoladamente.

A pesquisa, que analisa pessoas de 15 a 29 anos, baseia-se na definição de jovem estabelecida pelo Estatuto da Juventude e utiliza microdados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (PNADc) até 2023. O estudo apresenta uma diferença importante em relação a outros levantamentos, como o realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que no início de 2024 apontou uma taxa de 12,6% de jovens "nem-nem" no Rio Grande do Sul. A pesquisa da PUCRS, no entanto, exclui da categoria aqueles que estão procurando emprego.

Embora o percentual de jovens sem perspectiva educacional ou financeira seja de 10%, cinco pontos abaixo da média nacional, o estudo aponta que a situação no Rio Grande do Sul é particularmente preocupante entre grupos específicos. O desempenho estadual piora significativamente entre jovens pobres, negros e mulheres, exacerbando as desigualdades sociais. Segundo o sociólogo André Salata, coordenador do PUCRS Data Social, essa fase da vida é crucial, pois é quando as desigualdades se consolidam. "Termos quase 230 mil jovens nessa situação é preocupante porque a juventude é um momento de transição para a vida adulta em que as desigualdades sociais são seladas. Começam a se criar ainda na infância, mas é nessa transição que se consolidam. Dependendo de fatores como a classe social, não trabalhar nem estudar traz prejuízos grandes e difíceis de reverter, porque prejudica a qualificação e a inserção no mercado de trabalho", afirma Salata.

Ao comparar os dados ao longo dos anos, desde 2012, o cenário mostra uma estagnação, com pequenas variações. Salata argumenta que é difícil definir um índice "ideal" devido às peculiaridades dos diferentes grupos sociais. Por exemplo, um jovem de família rica pode estar inativo porque está se preparando para um concurso ou tirando um período de descanso antes de iniciar uma carreira. Por outro lado, um jovem de baixa renda pode ter desistido de buscar emprego ou educação devido aos obstáculos enfrentados. Somente aqueles que não estão buscando trabalho são considerados "excluídos" no estudo.

O levantamento será detalhado no "Boletim Juventudes: Levantamento Sobre Estudo e Trabalho da População Juvenil no Brasil e no Rio Grande do Sul", que será publicado nos próximos dias, coincidindo com a celebração do Dia Internacional da Juventude, em 12 de agosto. As tabelas do estudo mostram que o percentual de jovens "nem-nem" é sete vezes maior entre o quinto mais pobre da população, em comparação com o quinto mais rico. Além disso, a taxa é o dobro entre mulheres em comparação com homens, e quase 40% maior entre negros do que entre brancos.

O estudo também destaca um aumento significativo na proporção de adolescentes de 15 a 17 anos que "só trabalham", passando de 2,1% em 2021 para 6,3% em 2022. Essa mudança reflete o impacto da pandemia de COVID-19, que reduziu as oportunidades de emprego temporariamente, seguido por um período de recuperação econômica.

 

Políticas públicas e desafios futuros

A coordenadora do Observatório Juventudes da PUCRS, Patrícia Espíndola Teixeira, desafia a ideia de que a quantidade significativa de jovens que não estudam ou trabalham seja resultado de uma "fraqueza" geracional ou de falhas exclusivas do sistema educacional. Para ela, o problema está relacionado ao não cumprimento das normas previstas na Lei 12.852/2013, conhecida como Estatuto da Juventude.

Ela também destaca que 27,6% dos adolescentes entre 15 e 17 anos no Rio Grande do Sul combinam estudo e trabalho ao mesmo tempo, o que representa um desafio significativo para a gestão pública. "Olha a sobrecarga que é isso para um adolescente", resume Patrícia.

Diante do rápido envelhecimento da população do estado, Patrícia defende a adoção urgente de políticas públicas integradas que garantam maior acesso e permanência dos jovens na educação e no mercado de trabalho. Ela também revela que a publicação do boletim é apenas a primeira de uma série de estudos sobre a juventude no Rio Grande do Sul e no Brasil. O próximo estudo abordará as diversas formas de violência que afetam os jovens, sempre com base na compilação e tabulação de dados oficiais, que frequentemente não destacam adequadamente essa faixa etária.